20 de novembro de 2010

Vida

"Gosto de pessoas doces, gosto de situações claras - e por tudo isso, ando cada vez mais só." Caio Fernando Abreu
    A vida inebriada de vinho tem cor fulgurante. Tem anseios, furor, calor, olhares e pele. O café da manhã ainda parece combinar com o céu límpido, azul ao olhar; mesmo porque também sua cor é escura, obscura. A sensação é boa porque o peso que se sente é do corpo que vive, que pulsa. A noite não é calada. É samba, é gafieira, é papo. Melodia. É não querer desperdiçar vida. É não saber o nome das coisas, mas conhecer seu gosto bom. É curar doença, é tomar cerveja, é caminhar no sol e comer pão de milho. Soltar as borboletas no estômago. É sinergia. Nessa vida não há expectativas. Não há tempo pra isso. Viver basta. O sorriso basta.
Existe uma sede intransitiva. 
    A água mata a sede, até que queiram  pensar que a água pode ser engarrafada e rotulada. E é essa a imagem do descompasso. Transforma o vinho em água. Lacra-se os dois. Não há mais bebida. Fica só o líquido que escorre. Não é mais essa vida. Amanhã de manhã o café é o mesmo, não menos obscuro. A sensação e o sabor dele que ficarão é que são outros. Há de se aguentar tamanha insipidez.  Chove. Molha e lava. Renova. É agua incolor, para matar outra sede. É vida. Só não se embala a saudade. Essa fica cada vez mais só. Só fica. E o que resta a ela é apenas continuar combinando com o céu. E continua tudo azul como deve ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário